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Vivo ao lado do rio

  • Foto do escritor: Leonardo Pereira
    Leonardo Pereira
  • 14 de jul. de 2019
  • 3 min de leitura

Uma criança que morou nos arredores de um rio com certeza tem histórias para contar



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Quando alguém pergunta – Ah, de onde você é? – a resposta é Mariante e duas indagações são frequentes - Onde? - e - Do lado do rio lá? -, assim como inúmeras localidades, Mariante é pouco conhecido por quem é de fora, a maior memória é relacionada ao rio que atravessa a localidade, o Rio Taquari.


Você tem a noção do que um rio dessa relevância importa para um pequeno distrito da cidade de Venâncio Aires? É, podia ser maior. Podia falar sobre a sua importância econômica, mas ele é mal aproveitado. Tanto para transporte, quanto para turismo. Ou então pelo seu valor ecológico, uma pena, também não é valorizado. Então para que serve essa enorme porção de água? Serve para tudo, sem ele provavelmente o tal Mariante nem existisse.


Citar momentos memoráveis da infância/adolescência que inclua o nome do rio é tarefa fácil. Crianças atualmente tendem a preferir o seu quarto e seu celular a brincar na rua, no entanto a realidade era diferente anos atrás. Não que este que vos escreve seja um velho ou um sábio, nem perto de ambos. Mas posso dizer que minha infância foi diferente. Obviamente, você já deve ter deduzido que o nosso querido Mariante não tem lá grandes pontos turísticos ou de lazer, balneários ou semelhantes em hipótese alguma. Bom, tem sim, o rio. E com ele vem histórias das incontáveis vezes onde, em um verão de altas temperaturas, a solução era descer a beirada do rio, normalmente uma turma grande de jovens acompanhados ou não de adultos, e se banhar nas águas amarronzadas. Se engana quem acredita que apenas no verão o rio fez crianças e adultos felizes, no inverno também houveram seus momentos. As famosas enchentes, outro tema referencial da localidade. Para os adultos, nem tanto, preocupados com seus pertences e com a evolução da água sobre sua propriedade. Porém, para crianças tudo é festa, e como disse aquela era outra época.


Não se importando com os alertas desferidos pelos seus país, a cada inundação era perceptível o alto número de crianças brincando pelas ruas de pega-pega, esconde-esconde e outras brincadeiras com água pelos joelhos. E não havia nada de errado, o nível de preocupação era mínima. A época era diferente. Um desses casos merece destaque, com uns 9 ou 10 anos lembro de organizarmos, entre uns seis amigos, uma corrida de bicicletas em uma das ruas onde a água ainda não havia chegado com força, só que não contávamos com a velocidade do rio e com o solo irregular. Crianças, ora, quem iria lembrar que ali era uma parte mais baixa da rua e que provavelmente estaria mais fundo. Foi dada a largada e lembro de ficar para trás rapidamente, afinal, estava longe de ser o mais rápido da turma. Próximo ao final percebo vários deixando seus veículos e voltando a pé, teimoso como era, eu e mais um primo seguimos. Pensa numa decisão errada. O resultado foi dois piá de 1 metro e meio de altura com suas bicicletas presas e completamente encharcados. Ainda não nos consideraram vencedores, falaram que a corrida tinha terminado antes. Acredito fortemente que não sai ileso ao chegar em casa, possivelmente foi a última vez que pisei fora de casa durante aquela cheia.


Histórias como essa são cada vez menos frequentes. O velho Rio Taquari segue, firme, sem tanta força como antigamente e sua vegetação tem menor densidade. Ainda sendo, pelo menos no trecho Mariante, bem cuidado e sem receber altas taxas de poluição por parte de seus habitantes. Agora, o número de jovens no local diminuiu, os turistas não escolhem mais o Taquari, preferem um balneário qualquer para se banhar. E assim como o Mariante, o rio é cada vez mais abandonado. Longe de mim querer ditar regra e exigir que tais pessoas realizem o que escrevo. Novamente, apenas a época é diferente.


Algumas vezes escutei piadas relacionadas ao rio quando respondo minha localidade. Nunca levei como insulto. Afinal, sem o Rio Taquari dificilmente teria tantas histórias para contar, os jovens nascidos em cidade nunca irão saber o que é morar ao lado de um rio.

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