Vai viver, menina

Levanta dessa cama, menina. Sai desse quarto. Cuida de ti.

Levanta dessa cama, menina. Puxa a cortina, abre a janela. Tem sol lá fora. Olha pra ele. Sente o calor, sente os raios dessa coisinha brilhante tocarem na tua pele. Respira o ar – nem tão puro assim, mas fresco. Sempre fresco. Respira fundo. Deixa ele entrar bem lá no fundinho, tocar aquilo que te incomoda, que te oprime, que te faz sentir miúda. Coloca pra fora. Com força, vai. Junto com ele, deixa, também, tudo sair. Tudo que tá dentro do teu peito. Apertando. Doendo.

Sai desse quarto. Anda pela casa, abre a geladeira, escova os dentes, molha a cara. Toma um café quente – ou um chá, ou um leite, ou uma água, o que você quiser. Qualquer coisa, tanto faz. Só se mexe, vai. Veste uma roupa – ou fica de pijama mesmo, se preferir. Melhor, fica nua. Se desnuda: de roupas, de dores, de amores. Cuida de ti. Sente. Te sente. Linda. Leve. Única. Única pra ti, única pra tua vida. Só sente. Sente e vive. Vai viver, vai. Pode ir.

Não é fácil, eu sei. Acredite. Tem dias que a vontade é mesmo de ficar na cama, enrolada no edredom, no conforto que só um quarto meio escuro/meio claro pode oferecer. Às vezes é só disso que tu precisas, eu sei. E tudo bem. Tudo bem ceder à tristeza, à angústia, à incerteza, à confusão, ao medo. De vez em quando, tudo bem. Não sempre. Nunca sempre. Porque o tempo tá correndo. A vida tá passando. O que tu não podes permitir – e nem querer – é que ela passe sem que tu aproveites tudo que ela tem a te oferecer. Mesmo que, dentro deste pacote, também se encontre choro, saudade e desamores.

Tá esperando o que ainda? Tá esperando por quem, afinal? A vida é tua. As escolhas, também. As atitudes, mais ainda. Ninguém vai vir em teu socorro, menina. Se é isso que esperas – sinto muito, não vai acontecer. Se não saires em busca do teu próprio final (feliz, talvez, mas só indo atrás dele é que saberás), ninguém por ti o fará.