Na mira do debate
- jorespecializado
- 14 de jul. de 2019
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Entenda os prós e contras do decreto de posse e porte armas

Um dos temas mais discutidos da atualidade é o decreto que regulamenta a posse de armas de fogo no Brasil, assinado pelo presidente Jair Bolsonaro nos cem primeiros dias de mandato. O texto estabelece situações em que está presente a “efetiva necessidade” de possuir arma em casa ou no local de trabalho, em área urbana ou rural. Mais recentemente foi anunciada também a edição de um decreto de porte de arma para caçadores, atiradores e colecionadores, e para menores de idade praticarem tiro esportivo sem autorização judicial.
O decreto também dá o direito ao porte de armas a agentes de trânsito, advogados, políticos, jornalistas, caminhoneiros e profissionais de outras categorias – medida que atinge mais de 19 milhões de cidadãos. O presidente também defende excludente de ilicitude (situação em que, mesmo a pessoa praticando um crime, ela não será responderá por tal. São elas: estado de necessidade, legítima defesa, exercício regular de um direito e estrito cumprimento de um dever legal) para cidadãos comuns e uso de armas em vias públicas.
Segundo consta no site do Planalto, “com a medida, a principal mudança é retirar o poder discricionário da Polícia Federal em decidir quem pode e não pode ter acesso ao armamento”. Contudo, um parecer da Câmara de Deputados diz que o decreto contém ilegalidades e o Supremo Tribunal Federal (STF) analisa uma ação que questiona sua constitucionalidade. Dessa forma, o decreto poderá acabar sendo suspenso total ou parcialmente pelo STF, ou pode ser derrubado pelo Congresso Nacional. A seguir, prós e contras diante das novas regras.
A FAVOR
“Nada mudou as exigências com relação à posse da arma, o que mudou foi o tempo de validade do Certificado de Registro de Arma de Fogo (CRAF), agora são dez anos para renovar, e a quantidade de armas, que passou para quatro. O cidadão que assim desejar, terá o direito de sua defesa, defesa da sua família e de seu patrimônio. Quando falamos em armas não estamos falando em confronto armado, estamos falando em prevenção. O policial (segurança pública) porta sua arma de forma ostensiva, para provocar a sensação de segurança naquele local, a mesma situação com relação aos vigilantes (segurança privada), e também deve ser assim com o cidadão comum. A polícia não tem como dar conta de toda a violência de criminosos, o cidadão tem o direito de também fazer parte dessa proteção e prevenção. Arma na mão do cidadão não gera crime, muito pelo contrário, arma gera crime na mão do criminoso”.

“No meu caso, pelo trabalho que exerço, sempre pude ter porte de arma. Sou a favor, porém acho que as regras e avaliações individuais devem ser mais rígidas, e existe uma diferença entre posse e porte de arma. Posse de arma, tu podes, após rígidas avaliações, ter permissão para possuir dentro da propriedade, não pode usar fora dessa fronteira. Já porte de arma, o cidadão pode andar armado fora de sua propriedade. O porte de arma, na minha opinião, deve ser dado por um motivo específico, comprovadamente importante e relevante para a defesa do cidadão, como no caso dos agropecuaristas, sendo muito bem avaliados antes. Em suma, não sou a favor de todo mundo andar armado pelas ruas, exceto casos inevitáveis, mas dentro de suas propriedades, sou totalmente a favor”.

“Acredito e concordo que teremos requisitos duros para adquirir uma arma de fogo, mas tenho a plena certeza que pelo nosso cenário vivido hoje é o maior investimento para quem quer ter um mínimo de segurança no seu espaço. Treinamento, rotina, local seguro, exames, regras, leis, multas... Tudo para evitar o máximo de desvio do objetivo da flexibilização da posse da arma para segurança familiar”.

"Acredito que todo cidadão de bem deve possuir o direito de optar por possuir ou não arma de fogo em sua residência para sua defesa e da família. Claro que sempre atentando para algumas regras que serão legalmente impostas e um treinamento desenvolvido pelos órgãos competentes”.

CONTRA
“O interesse maior do governo na flexibilização das regras da posse de arma de fogo é o econômico, para atender o lobby da indústria do armamento no país, as mais beneficiadas com essa irresponsabilidade. Qualquer pessoa minimamente sensata compreende que o combate à violência não se dá por meio da ampliação do acesso a armas de fogo e sim por um controle rígido no combate ao tráfico de armas e de munições, bem como por investimentos nos serviços de inteligência e segurança pública. A responsabilidade da segurança da população é do Estado. Considero preocupante o fato de que possuir armas em casa aumentam muito os riscos à família, especialmente às mulheres vítimas de violência doméstica, considerando os índices alarmantes de feminicídio, que independe de classe social. O decreto flexibilizou a posse e aumentou a possibilidade de um indivíduo adquirir armas. Os pobres continuarão sendo vítimas dos criminosos e dos interesses econômicos”.

“Precisamos levar em consideração que estamos com a saúde mental comprometida. As armas dentro de casa aumentam a chance de ferir um familiar por conflito doméstico, acidente motivado por impulso, pela dor, efeito de álcool e drogas ou até mesmo vingança. Não podemos facilitar que mais casos de suicídio e violência aconteçam. Até mesmo porque hoje os bandidos com lápis também são perigosos. Precisamos sim é prender os marginais e estimular que nossos adolescentes escolham a escola e não o tráfico. Atualmente em nosso município (Cachoeira do Sul) são 23 casos de tentativas de suicídio, três suicídios de janeiro a março deste ano, e 104 notificações de violência. Acredito que com a venda de armas passará a ser um negócio com mais adversidade. Não podemos deixar, pois dar arma à população será um desastre”.

“A nossa essência humana é violenta, negligente, imprudente e imperita, que reflete nos acidentes de trânsito, feminicídios, generocídios, violência contra incapazes, motivados por questões étnico-raciais, ou questões banais”.

"Entendo que isso não trará melhorias para a segurança pública. Estudos apontam que a maioria das armas utilizadas por bandidos foram adquiridas de forma legal e após foram subtraídas e utilizadas em delitos e homicídios. A flexibilização trará, certamente, um significativo aumento de mortes e uma falsa sensação de segurança”.

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