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A preservação da cultura no Vale do Jacuí

  • jorespecializado
  • 14 de jul. de 2019
  • 6 min de leitura

Grupo de ativistas culturais desenvolve projetos em Cachoeira do Sul



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O quinto município mais antigo do Rio Grande do Sul é formado por relevantes acontecimentos históricos. Cachoeira do Sul, localizada no centro do estado, no Vale do Jacuí, detêm 14 bens imóveis cujo tombamento foi providenciado pelo Conselho do Patrimônio Histórico Cultural (Compahc), sendo um destes a casa da Fazenda da Tafona, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado – Iphae.


O município às margens do Rio Jacuí dispõe de instituições municipais organizadas e reconhecidas, como a Biblioteca, o Museu, o Atelier Livre, o Arquivo Histórico, a Casa de Cultura e o Parque Municipal da Cultura. A formação do povo e a construção de seu patrimônio natural e material se deve à herança da colonização de portugueses, africanos, indígenas, alemães, italianos, judeus, árabes e japoneses, entre outras etnias. Diante de tamanha pluralidade e riqueza cultural, a cidade agrega atuantes associações, entidades sociais e agentes culturais que contribuem e difundem a cultura local.


EM PROL DA CULTURA

Em um mundo tecnológico, onde presente e futuro já parecem não ter uma linha bem delimitada, as crianças têm sede pelo saber do passado, de conhecer suas raízes e origens. Uma das responsáveis por essa intermediação histórica e cultural é a professora aposentada Eliane Schuch, 67, que atuou como vice-presidente da Associação Cachoeirense de Amigos da Cultura (Amicus) e a criação da Secretaria Municipal de Cultura. Ela foi diretora da Escola Estadual Juvêncio Soares, onde desenvolveu junto aos alunos trabalhos de valorização dos bens culturais do município.


Com o ingresso da cidade como polo educacional e universitário, a exemplo da recente instalação do campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Eliane confia que se articulará a cultura e a riqueza no município. “Entendo a universidade como fortalecimento e promoção de uma nova mentalidade na cidade”, diz. Na Amicus, contribuiu para a elaboração jurídica e contábil do Memorial Nacional do Arroz e da implementação de um projeto de acesso à cultura entre a 24ª Coordenadoria Regional da Educação (CRE) e o Cine Via Sete.

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“Participo da cena cultural ora como protagonista, assessora ou espectadora. Quem gosta de cultura nunca se aposenta”. Eliane Schuch

REVITALIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL

O vagão do tempo não para, mas é na parte externa do Museu Municipal que mora um antigo vagão de trem em Cachoeira do Sul. A responsável pela recuperação deste veículo histórico deve-se à gestão de Claudia Beatriz Frey Scarparo, 59, à frente da direção do Núcleo Municipal da Cultura. Professora de Pedagogia com especialização e pós-graduação em Administração e Orientação Educacional 59, Claudia assumiu também o Arquivo Histórico, Atelier Livre Municipal e Biblioteca Pública Municipal.


Junto à equipe, revitalizou o auditório da Casa de Cultura e o Atelier Livre. Hoje esses locais estão em funcionamento. “Esses espaços culturais são indispensáveis para a fomentação dos trabalhos culturais”, diz. Também foi feita a revitalização da Fonte das Águas Dançantes por ocasião da Feira do Livro de 2015.

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“É indispensável que se eleve o índice de investimentos em cultura e na formação das novas gerações”. Claudia Scarparo

VIDA DEDICADA À CULTURA

Quando se fala na história de Cachoeira do Sul, logo lembra-se da professora de Letras Mirian Regina Machado Ritzel, 59, que há 30 anos atua como pesquisadora e investigadora da história de Cachoeira do Sul. Mirian exerce a função de pesquisadora no Arquivo Histórico, além de integrar o quadro de conselheiros do Compahc e do Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC). Realiza palestras e escreve o blog História de Cachoeira do Sul, participando de programas e entrevistas de emissoras de rádio e TV locais.


A pesquisadora se orgulha que as instituições culturais do munícipio são consideradas padrão-modelo no Rio Grande do Sul. “Essas foram capazes de dar guarida e fomentar a memória, a literatura, o patrimônio e a arte em suas mais diversas manifestações”, frisa. Para ela, no entanto, temos muito que avançar nesse sentido. “Tanto que o Plano Municipal de Cultura do Município, aprovado em 2015 e com vigência até 2025, apontou como fragilidade ‘pouca valorização dos aspectos culturais’”, diz Mirian, que cita o desconhecimento histórico da população entre os principais fatores causais.

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Legenda: “Contribuo na divulgação da história e das potencialidades culturais do município”. Mirian Ritzel

BAÚ DA CULTURA

A história é marcada por influentes personalidades, e a de Cachoeira do Sul associa-se ao legado e trajetória de Lya Wilhelm, professora de Filosofia e História já falecida. Atuou como museóloga e foi ex-delegada de educação e ex-diretora do Museu Municipal, sendo um importante ícone de valorização e de preservação da cultura e do patrimônio cultural da cidade. Especialista em administração e tecnologia educacional, Lya foi diretora da Escola Estadual Dr. Liberato Salzano Vieira da Cunha e do Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura, e sócia-fundadora da Amicus. Foi a primeira presidente e uma das fundadoras do Compahc e vice-presidente do Conselho Regional de Museologia (Corem).

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ACORDES DE UMA VIDA

A música é uma manifestação histórica e cultural, que atravessa e marca gerações mundo afora. Conselheira do Compahc por vários anos e sócia-fundadora da Amicus, Marucia Pinto Castagnino, 66, professora de Música aposentada, com 44 anos de atuação, participou como instrumentista (piano) em solenidades, eventos culturais e concertos e atuou em projetos de incentivo à música nas escolas públicas. Foi regente de corais infantis, juvenis e universitários e fez concertos populares para estudantes e atividades escolares.


“Tudo que acontece na comunidade é o reflexo do nível cultural das pessoas e principalmente de como o poder público e lideranças tratam o assunto”, salienta.

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“O canto coral é uma atividade essencial para o crescimento pessoal e social das pessoas”. Marucia Castagnino

LUZ, CENA E AÇÃO

O teatro, por sua vez, é uma importante manifestação artística responsável por promover a cultura, sobretudo, às novas gerações. A professora de Língua Portuguesa e Literatura Bernadete Lovato, 61, está à frente há 28 anos do grupo teatral Luz EncenAção, no Colégio Marista Roque. Ela é responsável pela criação deste projeto que já viabilizou a apresentação de mais de 200 espetáculos na cidade, e tem a pretensão de levar o teatro para dentro de outras escolas visando o desenvolvimento de talentos locais. “É pelo encantamento que construímos a cultura. Somente através da arte que teremos um mundo mais sensível e humanizado”, fala.

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“Cachoeira é um celeiro de grandes talentos. Mas um longo caminho ainda teremos que percorrer para que ela venha a ser rica na cultura”. Bernadete Lovato

FRUTO DO CONHECIMENTO

Por meio do encantamento que as atividades culturais proporcionam pessoas de diferentes idades, classes sociais, gêneros e raças se reúnem, propiciando um elo de integração espaço-temporal. A professora de Letras Márcia Rosana Severo Patel, 58, servidora da 24ª CRE, esteve amplamente envolvida com atividades culturais em Cachoeira do Sul, como na Vigília do Canto Gaúcho, Fenarroz, na Feira do Livro, no Carnaval e na Praça é Nossa.


Márcia desenvolveu o trabalho de assessora técnica do Museu Municipal Edyr Lima durante 28 anos como guia turística, pesquisadora e palestrante. Mesmo não atuando mais no setor cultural, não mede esforços para difundir o aprendizado que acumulou junto ao Núcleo Municipal da Cultura, estimulando a conscientização da população para a conservação do patrimônio arquitetônico.

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“Cachoeira do Sul é rica culturalmente, mas é preciso mais”. Márcia Patel

NA PONTA DOS PÉS

A dança também atua como um importante componente cultural. Professora de balé clássico há 27 anos, Andréia Rizzato Pohlmann, 45, natural de Santa Maria, exerce em paralelo as funções de auxiliar de biblioteca, consultora de acervo e contadora de histórias há 18 anos no Colégio Sinodal Barão do Rio Branco.


Entre seus principais projetos estão a Feira do Livro do Barão, o Sapatilha (projeto social que contempla alunos das escolas públicas Liberato Salzano Vieira da Cunha e Maria Pacicco de Freitas nas aulas de balé do Barão) e o “Livro Vai, Livro Vem... Eu Conto e Vocês Também!” (projeto de incentivo à leitura, criatividade e improvisação com alunos das séries inicias do colégio).

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“Busco conduzir o conhecimento de forma lúdica, fazendo parte da formação de crianças e jovens”. Andréia Pohlmann

SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA

Através dos livros, a professora municipal Rosane Druck Rösing, 56, embarca no imaginário de crianças, jovens e adultos contando boas histórias. Há cerca de cinco anos coordena o projeto Na Sala com Rosane. A atividade consiste na apresentação de leituras dramáticas e intimistas de autores consagrados da literatura nacional e internacional, com cenários montados, elementos e caraterizações que compõem a narrativa. Atuando profissionalmente como contadora de histórias há 34 anos e especializada em curadoria infantil, Rosane projetou a Hora do Conto na Biblioteca Pública Municipal Dr. João Minssen.

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Legenda: “Busco despertar em cada pessoa a curiosidade e o encantamento pela literatura”. Rosane Rösing Crédito da foto: Anelise Gazzaneo

ILUSTRADOR DE DESTAQUE

Pessoas de todas as idades tornaram-se fãs dos super-heróis pelas histórias em quadrinhos, consideradas um produto da nova cultura. Com uma ideia na mente e pinceis nas mãos, artistas dão vida a essas obras que arrastam multidões. Matias da Silveira Streb, 32, é ilustrador, professor de desenho e palestrante, com 20 anos de atuação. Hoje é um dos brasileiros a trabalhar para grandes editoras como Marvel, DC Comics e Valiant Comics, detentoras de personagens como Capitão América, Superman e Mulher Maravilha. Também já realizou séries de TV, como “Game of thrones” e “The walking dead”, e para o cinema, como “O hobbit: a batalha dos cinco exércitos” (2014) e “Thor: ragnarok” (2017).


Ainda desenvolve set de “sketchcards” (cartões colecionáveis), com circulação no exterior. Premiado na 51ª Noite dos Destaques na categoria jovem de sucesso pelo Jornal do Povo, é presença em eventos de cultura pop, universidades e exposições no país, sendo responsável pela ilustração do calendário dos 40 anos do Museu Municipal.

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Matias Streb: “Com os cards realizei sonhos em trabalhar com personagens que eu cresci lendo”

SÉTIMA ARTE

É na tela do cinema que a história ganha vida. E Cachoeira do Sul é considerada um polo do cinema no país, tendo em pé o Cine Coliseu e o Cine Astral, prédios que marcaram a influência do município na sétima arte. Um dos apaixonados por cinema é o produtor de filmes independentes, Cristianno Caetano, 29, há dez anos na área. “Sempre fiz produções com pouco orçamento. Procuro fomentar nos jovens que para fazer basta querer”, fala ele, que reside atualmente em Curitiba, no Paraná.

Para o produtor, seu papel enquanto agente cultural é estimular as pessoas a conhecerem o novo, como apreciar uma galeria de arte ou assistir a um clássico do cinema. “Acredito que Cachoeira está se reerguendo pouco a pouco e coisas incríveis estão por acontecer. Ainda existem pessoas que apostam na cultura”, observa o jovem, que reforça o potencial de espaços que privilegiam a busca pela cultura na cidade, como o Viveiro Cultural e o Cine Via Sete.

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“Como apaixonado por cultura e arte, busco proporcionar experiências marcantes dentro de nossa cidade”. Cristianno Caetano

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