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O sonho de morar no Exterior

  • Foto do escritor: Grasiel Grasel
    Grasiel Grasel
  • 15 de jul. de 2019
  • 11 min de leitura

Viajar para fora do país é sonho de muito brasileiro, seja para trabalhar ou estudar. Canadá e Nova Zelândia são alguns deles


*Esta reportagem é resultado da união de trabalhos dos alunos e autores Grasiel Grasel, Matheus Prestes, Pietra Marques e Rosana Wessling

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É cada vez mais comum encontrar brasileiros que sonham em viajar ao exterior, talvez por vivermos num mundo interconectado como o atual. Embora as motivações de tais pessoas sejam, rotineiramente, ingênuas e influenciadas por uma mídia que tende a vender uma imagem glamourizada geralmente de países desenvolvidos, ainda é possível encontrar pessoas que realmente tenham motivos concretos que justifiquem suas intenções de viajar.


Uma pesquisa feita pela revista Valor no início do ano, com mais de mil profissionais brasileiros mostra que 91% dos entrevistados tem vontade de procurar uma oportunidade de trabalhar no exterior para ter a chance de morar fora do país. A maior parte só colocaria o plano em prática se conseguisse um emprego formal. Em outra pergunta, cerca de um terço disse que aceitaria um não relacionado a sua formação, como ser garçom, babá ou fazer serviços de limpeza.

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O sonho de viajar e conhecer novas culturas é o que motiva a maior parcela de profissionais nessa vontade de morar fora, mas cerca de 26% atribuem o desejo à crise e ao alto nível de desemprego no Brasil, 23% à falta de perspectiva na própria carreira e 16% à queda no padrão de vida dos últimos anos. O idioma é a competência mais importante para conseguir uma vaga no exterior, na opinião dos respondentes, mas a flexibilidade para respeitar culturas diferentes, a capacidade de aprender e a resiliência também foram lembradas.


A experiência de quem já viveu fora do país

A Nova Zelândia é um país moderno e desenvolvido, com um ritmo de vida tranquilo e sem muito estresse. O país possui uma população de aproximadamente 4,5 milhões de habitantes. A Nova Zelândia é um país formado por duas grandes ilhas: Ilha do Norte e Ilha do Sul, que são separadas pelo estreito de Cook. Nos diversos rankings mundiais apresentados pela ONU, o país que mais parece uma ilha, é classificado sempre com ótimas posições em quesitos como desenvolvimento humano, qualidade de vida, alfabetização, educação pública, falta de corrupção entre outros.


O Gaúcho Miguel Silveira Horlle empresário, proprietário da Agência de Viagens Siga Experiência Turismo, gremista e morador de Porto Alegre fala da sua experiência no exterior. Ele e a namorada em 2011 estudavam inglês, não o falavam perfeitamente ainda, mas tinham vontade de morar fora. Na escola de idiomas conheceram um professor que já havia morado fora, na Nova Zelândia. O professor pretendia retornar em definitivo para lá em poucos meses. “Ele nos contou sobre as belezas do país, e principalmente sobre o seu diferencial em relação aos outros países de língua inglesa, a menor dificuldade para se conseguir visto de permanência” falou Miguel Horlle.


O governo Neozelandês libera anualmente um visto chamado Working Holiday Visa (Visto de Trabalho de Férias). Ele permite ao portador, permanecer no país por até um ano, trabalhando, sem precisar estudar, o que é o grande diferencial com relação a países como Irlanda e Canadá por exemplo. Em 22 de setembro de 2011, Miguel e a namorada embarcaram com esse visto, na intenção de viver o inglês, aprimorar o conhecimento da língua e principalmente ter a experiência de morar em outro país.


Segundo Miguel Horlle, no segundo dia de viagem, hospedados num hotel no centro da maior cidade do país, Auckland (semelhante a Porto Alegre em número de habitantes), sua parceira arrumou trabalho no próprio hotel. Porém, ainda não possuíam o cartão IRD, um documento que serve como um CPF, mas também para registro de trabalho e pode ser solicitado em qualquer agência dos correios. Lá na Nova Zelândia essas agências de correios, são como uma soma dos nossos correios com lotéricas daqui.


“Por não ter o IRD, ela precisou procurar outro. Fizemos currículos dizendo que tínhamos experiência como cleaner (faxineiro), e fomos para os hotéis. Ela conseguiu outro na segunda semana, quando já estávamos vivendo na casa do nosso amigo e ex-professor. É extremamente fácil conseguir trabalho lá. Eu não queria ser garçom. Só por isso levei três semanas para conseguir um trabalho. Foi numa fazenda em que se vendiam sorvetes de morango congelado, verduras, legumes e panquecas”, conta Horlle.


Canadá como escolha para morar

Dentre as milhares de possibilidades, o Canadá segue sendo um dos destinos preferidos e recebe o maior número de imigrantes desde a 1ª Guerra Mundial. O ano de 2018 entrou para a história da imigração registrando a entrada legal de 321.065 estrangeiros, conforme dados do site OiCanadá.


Para 2019, o governo canadense estipulou metas ambiciosas de recrutamento, a expectativa é de abrir as portas para 330 mil pessoas. Em 2020, 340 mil, atingindo 1 milhão de novos habitantes até o ano seguinte. O plano imigratório inclui vagas para trabalhadores e apoio aos refugiados.


Essa situação favorável para imigrantes não acontece em muitos países. Nos Estados Unidos, por exemplo, o presidente Donald Trump pretende construir um muro na fronteira com o México e dificultar a entrada de imigrantes. O caso dos Estados Unidos se repete em outros países.


Dentre os imigrantes que o Canadá está recebendo, o Brasil é o quarto país que mais solicita algum tipo de visto para residência temporária. Segundo o governo canadense, fica atrás somente da China, Índia e México.


De 2010 a 2016, somente os brasileiros fizeram 550 mil pedidos de vistos de estudante e permissões de trabalho. Entre janeiro e setembro do ano passado, o número total de aplicações para residência temporária no Canadá chegou aos dois milhões, cerca de 15% a mais do que no mesmo período de 2015.

“Eu amo esse país. Graças a Deus tive a oportunidade de vir pra cá, sou encantada pelo Canadá”

Quem optou em residir no Canadá foi a venâncio-airense Hanna Kist de Almeida, 21 anos. A primeira experiência da jovem no país foi em 2017, quando foi ao exterior para estudar. Ela concluiu o Ensino Médio no Brasil e, após a formatura, teve uma experiência de 6 meses estudando inglês na Inglaterra.


Depois, Hanna retornou ao Brasil, mas por pouco tempo. Ela decidiu que queria estudar, o objetivo era cursar uma universidade fora do país de origem. “Meu primeiro pensamento era ir para a Austrália, mas como decidi que queria estudar e depois morar no país escolhido, pesquisei, me informei e vi que o Canadá era a melhor opção.”


A jovem comenta que após a conclusão do curso de Business - Marketing em agosto, ela ganhará a permissão de ficar no Canadá durante três anos para trabalhar, entretanto a meta é buscar a permissão para fixar residência no futuro.


Em entrevista com a estudante podemos ter noção do país, da cultura, e da diversidade do Canadá. Hanna elenca situações que fizeram a diferença na hora de optar por morar no país.

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Hanna no lago que divide a cidade de Barrie em norte e sul. Essa foi a primeira cidade que a jovem morou após a saída do Brasil. CRÉDITO: Arquivo pessoal

Rosana: Por que escolheu o Canadá?

Hanna: Queria um país que fosse mais fácil para ficar depois de concluir a faculdade. E o Canadá é um país multicultural, eles têm a fama de terem uma mente muito aberta, com culturas diversas, respeito. O governo é muito bom e escolhi o país por ele ser multicultural.

Rosana: Quando foi ao Canadá você já tinha domínio da língua?

Hanna: Cursei o ensino médio no Brasil e desde pequena fazia aulas de inglês. Adorava olhar filmes sem legenda, escutar músicas e aprofundei os conhecimentos na Inglaterra durante seis meses.

Rosana: Além dos estudos você trabalha? Como foi a experiência de conseguir um emprego?

Hanna: Sim, agora faço um estágio na área do meu curso, marketing. Aqui no Canadá funciona assim: o curso é dividido em três quadrimestres no ano, dois quadrimestres de estudo e um de estágio. No total, são quatro períodos de estudo e dois de estágio. Então desde maio até o final de agosto eu só trabalho, não tenho aula. Depois que eu acabar, me formo no college.

Rosana: Fale mais sobre o seu estágio, como funciona para conquistar a vaga, tem oportunidades?

Hanna: Sim, o interessante é que essa vaga de estágio é como conseguir um emprego no Brasil, você precisa participar de entrevista e é concorrido. Aqui tem muita oportunidade. Em Toronto tem muita empresa e vaga de trabalho. Não vou dizer que é fácil, mas tem mais oportunidade que no Brasil. Aqui você estuda qualquer coisa e tem oportunidade. Meu estágio é de 38h semanais, mas é um emprego normal, com o mesmo benefício de quem tem carteira assinada, o salário é durante quatro meses, considero um salário bom, pois consigo me manter bem aqui.

Rosana: Me conte um pouco sobre o país. Como você caracteriza a cultura do Canadá?

Hanna: Eu amo esse país e as pessoas daqui. Graças a Deus tive a oportunidade de vir para cá, não pretendo voltar para o Brasil, sou encantada pelo Canadá. No final do ano já vou querer ficar em uma residência, encaminhar a papelada, mas tenho três anos para trabalhar no Canadá. É um país que respeita a diversidade, são muito mente aberta. Eu acho muito legal que não importa se é criança ou idoso, todos tem o pensamento muito aberto à novas culturas. Além da bela receptividade, as pessoas são muito amigáveis. Outra coisa que gosto de destacar são as políticas públicas para os LGBT, não vejo racismo aqui e eu acho isso muito lindo. Aqui eles estão acostumados a lidar com diferentes culturas.

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A jovem brasileira participa ativamente das atividades do Canadá. O registro é no Canadá Day, em Ottawa, o maior feriado do país em que se comemora a independência do país

Rosana: Fale um pouco sobre o ensino, quais os destaques e diferenças do Brasil...

Hanna: Depois que tu tem 12 anos, aqui você já escolhe o que quer fazer de disciplinas. Outra coisa que percebo é muitas aulas de computação. Toda escola, seja qual for, tem aula de robótica e computação. No college, onde tive a maior experiência, os professores muito atenciosos, contam com jeitos diferentes de dar aula e conectar a turma. Cada universidade tem muitos serviços estudantis. Se você tem dificuldade em uma disciplina você vai ao Conselho Estudantil e pede um tutor até entender a matéria, isso sem custos adicionais, já está incluso na mensalidade. Percebo muita empatia.

Rosana: O Canadá bate recorde de estudantes internacionais. Por que você acredita que o país investe em vistos de estudantes?

Hanna: É o segundo maior país do mundo, mas apenas 36 milhões de pessoas moram aqui. É um país muito grande com pouca gente. E o que atrai muitas pessoas de fora é o work permite que depois de se formar você pode trabalhar três anos aqui. O país investe em estudantes, valorizam os jovens, o pensamento é de que nós somos o futuro. Eles realmente investem, querem estudantes, gente nova para popular o país, para investir e trabalhar. Tem muito idoso aqui e por isso querem trazer muita gente nova para cá. E esse incentivo de fazer o college e dar essa permissão para trabalhar aqui é fundamental.


Processos de imigração

Um dos países que mais recebe imigrantes no mundo é o Canadá. São dezenas de milhares de pessoas que todos os anos recebem permissão do país do extremo norte da América para firmarem residência em seu território. E, claro, brasileiros não faltam entre os que já foram ou pretendem ir tentar uma vida como cidadãos canadenses.


Aos que ainda estão no processo de conseguir permissão para morar no Canadá, as perspectivas atuais são favoráveis: de acordo com um relatório publicado em maio deste ano pelo “The Conference Board of Canada”, para manter o seu potencial econômico no máximo, o país deverá ampliar seu programa de acolhimento de imigrantes para que até 2040 o número de trabalhadores seja suficientemente grande para suprir a saída dos canadenses que se aposentarão.


Lançado em 1998, o Programa Provincial Nomeado (PNP) é um dos programas de imigração mais importante da história do Canadá, um dos que mais leva pessoas de todos os cantos do mundo a morar no país e o responsável por dar mais liberdade às províncias para poderem atender às suas necessidades demográficas e de força de trabalho, permitindo-as formar critérios de seleção de imigrantes por classe econômica. A tabela abaixo mostra um ranking das províncias com maior número de alocações de 2009 a 2018.

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Como não é difícil perceber pela descrição do principal programa de imigração, o PNP, o Canadá se preocupa -e muito- em selecionar muito bem as pessoas que estão em processo de pedido de visto permanente, afinal, somente pessoas qualificadas e que possam atender as demandas de mão de obra que o país tem possuem preferência, tendo uma chance maior de passarem pelos processos de imigração com mais facilidade.


Marlon Engel trabalhou por 12 anos com Motion Graphics (animação gráfica) no Brasil, chegou a prestar serviços em seus últimos anos no Rio Grande do Sul para a RBS, afiliada da Rede Globo do Rio Grande do Sul. Mudou-se para o Canadá em 2009 e, partindo de uma especialização intensiva em efeitos visuais feita por um ano, conquistou de um visto permanente. O brasileiro continua trabalhando até hoje criando efeitos computadorizados para grandes produções cinematográficas, como Godzilla, Jogos Vorazes: A Esperança, Flash e Riverdale.

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Foto: Marlon/Arquivo pessoal

A escolha da cidade canadense em que decidiu morar não foi em vão: Marlon optou por Vancouver, conhecida internacionalmente como um polo da indústria dos efeitos visuais cinematográficos. Além do mais, o clima local também é muito atrativo, com dias de muito sol no verão e pouca neve no inverno, ao menos o suficiente para surfar nas principais montanhas da cidade. Tudo isso faz parte de uma estratégia muito bem pensada para aumentar as chances do visto permanente ser concedido, pois, caso não fosse muito claro que Marlon conseguiria um trabalho, ele provavelmente teria que voltar para o Brasil.


“O que o governo quer no momento? Tu precisa ter uma experiência de trabalho e uma qualificação acadêmica, um diploma te dá muitos pontos. Eles querem que venham pessoas instruídas e que vão conseguir se manter por aqui. Existe uma necessidade de imigrantes, mas eles querem pessoas qualificadas”, explica Marlon. O alerta é justamente a respeito da exigência que o Canadá faz ao possível imigrante, que precisa mostrar da melhor forma possível que é qualificado e terá para onde voltar caso não consiga se tornar um cidadão canadense.


Um dos caminhos mais seguidos por quem tenta imigrar com uma renda não tão alta é buscar um visto temporário para realizar um curso técnico no Canadá, especificamente para alguma área que a província para onde se pretende migrar tem alta demanda. Depois de concluído o curso, o processo burocrático tende a se mostrar menos complicado, pois as empresas locais geralmente são mais receptivas à diplomados no país que buscam emprego.


Cláudio Pereira Junior, 29 anos, e sua esposa Flávia Regina Knak, 27 anos, estão em processo de tentar mudar para o Canadá há 4 meses. Com a ajuda de uma empresa especializada eles pretendem conseguir um visto permanente depois de uma experiência inicial, quando o casal buscará emprego e Cláudio fará um curso de marketing em uma universidade. A empresa faz uma filtragem dos documentos do pedido de visto, tentando garantir que eles só serão enviados ao consulado quando houver um cenário com a maior chance possível de ser aprovado.

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Cláudio e Flávia continuam sonhando com sua vida no Canadá

O jovem formado em Relações Internacionais comenta sobre a importância da sua “viagem exploratória” para Vancouver, a cidade escolhida pelo casal, realizada em janeiro de 2019, para entender que a cidade e o país é o que o casal realmente busca. Na oportunidade, voltou não apenas com um diploma de uma escola de inglês, mas também com diversos contatos que hoje estão facilitando o processo de retirada do visto da esposa. “Hoje a gente tem pelo menos 4 casais que já estão lá esperando por nós, torcendo por nós, que vão nos dar um suporte quando a gente chegar” comenta Cláudio sobre como preparou círculos sociais que poderão ter no país, como a célula de uma igreja composta por alguns brasileiros.


O histórico do Canadá é constituído pela recepção de grandes números de imigrantes de todos os cantos do mundo. Logo depois de ter sua autonomia legislativa concedida pelo Reino Unido em 1931, assim como sua total independência em 1982, os programas de acolhida de novos residentes vindos de todos os continentes constituíram a gigantesca miscigenação que hoje configura o país, portanto, discriminação não é algo comum de se ver por lá.

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Cláudio visitou o Canadá em janeiro deste ano

Em uma cidade como Vancouver é muito normal caminhar pelas ruas e ouvir diversas línguas diferentes, como coreano, japonês, indiano, espanhol e, claro, muito português. A característica educação dos cidadãos canadenses também é uma marca e, portanto, é bastante fácil se sentir integrado, respeitado e seguro. “A receptividade aqui é muito boa porque todo mundo é de fora, tem pouca gente que é de fato da cidade. Tem essa característica no país todo, mas especialmente em Vancouver. No geral eu não vejo preconceito, todo mundo é bem-vindo contanto que seja qualificado para o mercado de trabalho” comenta Marlon.


“Cada experiência é única. Tu não pode querer ter a mesma experiência que outra pessoa teve no processo de migração. Nisso entra fator psicológico, a tua capacidade de lidar com mudanças, de se dispor a passar por situações desconfortáveis pro padrão que tu estava acostumado. Então é preciso pesquisar, mas em fontes oficiais, como o site do governo, pessoas que moraram no país, não em blogs ou canais do YouTube. É preciso entender que a mudança de realidade não é fácil”, alerta Marlon, tentando deixar claro que migrar não é tão fácil quanto possa parecer.


Cláudio e Flávia acreditam que poderão se mudar para o Canadá em agosto de 2019 e, embora tenham a ciência da possibilidade da experiência não dar certo, já sonham com um futuro no país, onde pretendem ter um filho que já nasça como cidadão canadense. “Daqui há 4 anos a gente já teria nosso filho, minha graduação em marketing, a Flavinha concluindo o curso de engenharia dela, nós dois trabalhando... Ter um carro bom e uma casa alugada confortável é mais fácil lá do que é aqui no Brasil, então eu espero que a gente tenha qualidade de vida” conta Cláudio, esperançoso.

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